16/05/2015

OPINIÃO: A TEORIA DAS JANELAS QUEBRADAS SE APLICA NOS ESTÁDIOS


Os fatos ocorridos no estádio da Bombonera, no jogo Boca Juniors x River Plate, onde os jogadores do River foram agredidos com um gás tóxico na volta ao campo podem ser muito bem explicados utilizando a ciência, ou melhor, a ciência social.

Para entender os fatos iremos utilizar a Teoria das Janelas Quebradas. Essa teoria apareceu pela primeira vez em um experimento da Universidade de  Stanford, desenvolvido pelo professor Philip Zimbardo, em 1969.

O experimento consistiu em abandonar dois carros idênticos nas ruas dos Estados Unidos. Um carro foi deixado no Bronx, na época, uma zona violenta e conturbada da cidade de Nova Iorque  e o outro veículo foi abandonado em uma área nobre e tranquila da cidade de Palo Alto.  Dois carros com características idênticas abandonados em dois locais com comportamentos completamente diferentes.

O resultado do experimento foi o seguinte: o veículo largado no Bronx começou a ser destruído em poucas horas.  Pneus, rodas, motor, espelhos, volante, pedais e bancos foram roubados, o que não foi roubado foi vandalizado. Enquanto isso o carro abandonado em Palo Alto ainda se mantinha intocado.

Mas o experimento não terminou. Com o carro abandonado no Bronx totalmente vandalizado e o de Palo Alto intocado, os pesquisadores quebraram propositalmente um dos vidros do veículo de Palo Alto.  Consequência: o vidro quebrado no carro desencadeou um processo semelhante ao ocorrido no Bronx, ou seja, peças foram roubadas e o veículo vandalizado, repetindo a mesma situação ocorrida com o veículo deixado em uma área conturbada.

Desta forma ficou a pergunta: Porque o vidro quebrado no carro deixado em um bairro nobre e supostamente seguro conseguiu desencadear todo um processo criminoso? É obvio que não foi devido a insegurança do local, na verdade trata-se da psicologia humana. Um vidro quebrado em um carro abandonado passa uma imagem de desinteresse, deterioração, isto é, um objeto sem um dono. Quebrando assim códigos de ética e convivência da sociedade, dando a impressão que não existem regras e a lei está ausente. A deterioração com o vidro quebrado induz o individuo a pensar que pode fazer de tudo. Desta maneira cada nova depredação multiplica-se a impressão de ausência de lei e os atos de violência vão aumentando até se tornarem incontroláveis e irracionais.

Transportando a Teoria das Janelas Quebradas para os estádios de futebol sul americanos vemos quão falho é a gestão da segurança das nossas praças esportivas.  A percepção de abandono começa na dificuldade de acesso nas catracas, banheiros imundos, corredores depredados e pichados, assentos encardidos, bares sem higiene e a não coibição de certos comportamentos não aceitos pela sociedades fora dos estádios de futebol, tais como, consumo livre de drogas, xingamentos ofensivos, racistas e homofóbicos, se pendurar em assentos e alambrados, depredação de banheiros e assentos etc.

A gestão de segurança de um estádio de futebol deve ser feito da mesma maneira que em um shopping center, um aeroporto, uma casa de espetáculo entre outros. Primeiramente o torcedor deve ser tratado com respeito em todos os momentos, deve encontrar um local limpo e livre de depredações, pequenos delitos e mau comportamento devem ser coibidos, gritos racistas e homofóbicos não devem ser tolerados, o torcedor deve perceber que o ambiente tem normas e regras e elas devem ser cumpridas, tem que saber que eles estão sendo vigiados e condutas fora do padrão, por menor que seja, não serão toleradas.

A questão é que “consertar as janelas” é um trabalho demorado, árduo e caro. Requer a implementação e capacitação de stewards (orientadores) e seguranças privados, aplicando as regras da casa e punindo os infratores, mostrando para todos que apesar de se tratar de um estádio de futebol, o local é seguro, vigiado, possui leis e as regras devem ser cumpridas.


Como vocês podem perceber gestão de segurança de estádios vai muito além de ostensividade, truculência e punição aos infratores. O problema se trata com inteligência, conhecimento do problema e principalmente mudança do tratamento.

*Foto: Juan Mabromata / AFP

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