25/02/2016

DA PRA FAZER BEM FEITO, BASTA QUERER!




Aproveitando o gancho da última coluna onde falei sobre a falta de planejamento, desorganização e tomadas de decisão que não privilegiaram a indústria do esporte, ao construir as Arenas da Copa do Mundo FIFA 2014, acho importante complementar o tema destacando como desenvolver um projeto com bases sólidas para construção de equipamentos que se tornem cases de sucesso.


Para uma Arena se tornar rentável e ser de fato a nova casa dos torcedores não basta simplesmente uma nova construção arquitetônica bonita e confortável, é necessário também planeja-la observando alguns requisitos, que vão desde o local até a definição de acordos comerciais e operacionais, que futuramente irão impactar nos resultados esportivos e financeiros do empreendimento.


Seguindo este conceito, no momento em que se decide o local onde será erguida a Arena, é necessário uma análise minuciosa sobre a acessibilidade no entorno, caso se constate que a mobilidade urbana seja ineficiente, é necessário criar uma operação conjunta com governo e parceiros para que essa deficiência não seja responsável por afastar o público, como acontece atualmente no Engenhão. Uma alternativa seria o desenvolvimento de rotas específicas saindo de variados pontos das cidades e regiões metropolitanas com destino direto para o estádio, e a criação de bolsões de estacionamento. Dependendo do acerto envolvido, essa solução pode inclusive se tornar uma nova fonte de receita para o match day. Outro ponto positivo desta implementação é que ela pode também se tornar peça chave para atrair grandes eventos.


Fato ignorado no Brasil e de crucial importância é o desenvolvimento de pesquisas destinadas a análise de perfil da torcida, ao adquirir conhecimento sobre seu público deve-se praticar a setorização dos assentos e espaços no interior do estádio. Não sou adepto da elitização das Arenas excluindo-se o torcedor menos abastado, até por que em alguns casos eles compõem parte relevante das torcidas. Acredito que conhecendo seu público serão criados setores que atendam a todos, desde as “gerais” até camarotes e áreas vips, a diferença é que tendo informação precisa sobre o perfil de sua torcida, a distribuição de assentos em cada setor será eficiente e atenderá a realidade.  


Aplicando-se a mesma tática de pesquisa para adquirir conhecimento, devem ser analisados o entorno e a cultura local para definir o desenvolvimento dos tão falados “espaços multiuso”. Se a arena encontra-se próxima a aeroporto, pode ser interessante a previsão de um hotel no projeto, ou restaurantes caso seja uma área empresarial, e espaços comerciais sendo uma área residencial. Importante ouvir a população que habita ou frequenta o entorno diariamente, saber suas carências, anseios e construir algo que seja funcional e permita arrecadação diária, é fundamental que este trabalho seja desenvolvido em fase de projeto, pois cada ambiente tem dimensões diferentes e será mais oneroso alterar o projeto inicial após o início das obras.


É relevante também que o projeto privilegie a conectividade, sendo obrigatório acesso a internet de qualidade. O volume de dados, informações e conteúdo que o esporte movimenta é gigantesco, permitir interações em tempo real é o mínimo que se espera de uma operação inteligente, além de fazer uso da tecnologia como ferramenta para melhorar a experiência do torcedor, seja através de apps com serviços e entretenimento, ou de softwares de gestão.



Por fim também, mas não menos importante é crítico que se façam acordos comerciais e operacionais eficientes. Na grande maioria das vezes os clubes não possuem condições de construir e operar seu próprio estádio, e acabam recorrendo a terceiros, prática habitual, e talvez a mais coerente tendo em vista que espera-se que os parceiros escolhidos tenham competência para desempenhar tais funções, todavia é necessário muita cautela ao alinhar essas parcerias para não ter surpresas futuras, não foram poucos os casos em que vimos os clubes insatisfeitos com as condições previamente acordadas.
 
Resumindo, dá pra fazer bem feito, ter a casa cheia, gerar lucro e fazer do estádio seu grande aliado na concepção moderna de se fazer futebol, não dá é pra fazer da forma como foi feito em diversos casos e achar que vai dar certo. Ninguém está inventando a roda, basta analisar o que é sucesso e aplicar conceitos difundidos universalmente, sem desrespeitar as peculiaridades do público, torcida e região, pois são eles os clientes que movimentam esse negócio.
*Por Mario Bini

Comente com o Facebook: